terça-feira, 16 de março de 2010

Glauco, o Santo Daime e o diabo.

Conheci o Glauco quando trabalhava como correspondente do jornal “O Estado do Paraná” em Pato Branco. Ele sempre fora uma pessoa amável e de bom coração, tinha acentuada predileção pelo misticismo, procurando constantemente meios para expressar a sua religiosidade. Depois que experimentou o chá do Santo Daime, parecia ter encontrado a satisfação espiritual que tanto procurara.

Sua identificação com a ritualística do Daime foi total, tanto que acabou organizando sua própria comunidade, da qual era o “padrinho”, dirigindo a organização com seriedade e distinção.

O Santo Daime não é uma religião cristã, é um sincretismo filosófico-religioso com elementos da umbanda brasileira, o catolicismo e influência do espiritismo cardecista, como a canalização e o passe. O ápice da ritualística é o consumo de uma mistura de folhas de chacrona com o cipó jagube ou meriri, macerados e cozidos. São ervas derivadas da floresta Amazônica e o chá conhecido como ayahuasca. Uma chícara do produto causa efeitos alucinógenos chamados “miração”, o que é considerada uma “revelação” espiritual, consequência da “expansão” da mente para além do mundo natural.

Evidentemente, a “miração” nada tem  ver com  revelação divina. É o efeito do estado de confusão mental, a ação da droga no sistema nervoso central, causando sensações que parecem reais e que não se apagam quando passa o resultado da ingestão do chá. Estudiosos são unânimes ao afirmarem que a mistura é perigosa, embora liberada por lei para consumo religioso, a bebida é tomada sem uma seleção prévia de pessoas susceptíveis, às quais o chá deveria ser contra-indicado.

Este parece ter sido o caso de Carlos Eduardo, o assassino do cartunista e seu filho. Ele vinha há tempos apresentando problemas psicológicos, com grande possibilidade de terem sido agravados com as ingestões da mistura alucinógena. Ele mesmo confessara a amigos que tinha “revelações” e se sentia “iluminado” (Veja, 17/03).

Há, no universo pouco compreendido da alucinação, a influência do sobrenatural, entidades do mundo invisível, aproveitando a “abertura” da mente para sugerir, enganar e levar pessoas à ações que nem elas mesmas conseguem explicar.

Glauco, homem de bem, com a melhor das intenções a respeito do seu algoz, acabou como vítima do próprio meio em que se movia com desenvoltura, considerando a prática uma “descoberta” capaz de ajudar pessoas através da “iluminação” interior.

Certamente o artista desconhecia a passagem bíblica em que Jesus alerta sobre demônios capazes de se transformarem em anjos de luz. Como milhares de outras pessoas, ele poderia estar equivocado ao esperar luz espiritual de outra fonte, longe da cruz de Cristo, sem reconhecer que o sacrifício dele e a ressurreição foi exatamente para libertar os cativos do pecado, jamais para “cativar” as mentes.

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